FOME

Estrondoso ruído rouco.

Das entranhas do estômago.

Gosto azedo, amargo, árido;

Na boca saliva seca da garganta engasgada.

Do fundo do âmago do ser desnutrido.

Rosto cavado, magro, doentio.

Inimigo solto, perigo a vista!

Escaneo, indiferença cobiça.

Face pálida,

Espírito sombrio e franco.

Perdas magricelas.

Pelo corpo em manchas roxas

E feridas abertas.

Os olhos, esbugalhados do filho aflito.

Dor no peito… frio.

Mãe de seios murchos e barriga inchada.

Vida por um fio.

Pânico de uma morte anunciada.

Quando o abdômen murmura por socorro,

Bicho homem em desespero é solto.

Prato vazio sempre a mesa.

Incerteza e tristeza de sobremesa.

Da ganância de uns, a ancia de outros.

Pra ser ter riqueza, preciso para muitos trazer pobreza.

Eis que a contradição traz seu nome:

Fome.

OLIVEIRA, A. C.

Lágrimas

Quando o brilho dos olhos se enchem d’água,

muitas frustrações vem a tona em duras magoas.

Hoje, acordei com um gosto amargo na boca.

Não era ressaca, não era gastrite. Não era amargura de uma rejeição do amor querido… Não, não era nada disso, era apenas indignação.

Passei a noite tendo sonhos bizarros de guerra, morte, pobreza, …, desumanidades mil. Eram só sonhos?…  Espero que sim.

Mas, agora de manhã, me dou conta que a cada dia que passa, me aproximo, cada vez mais, de uma possível realidade hostil, semelhante a dos meus sonhos.

Assistimos todos os dias a filmes contando histórias sobre a 2ª Guerra Mundial, ou sobre o Vietnã. Os maiores best-sellers da atualidade são livros que contam histórias de violência, guerra, morte e autocracias (A menina que roubava livros, o menino do pijama listrado, coletânea millenium, senhor dos anéis, e pasmem! Jogos vorazes, entre outros). O que será que isso pode dizer? Que gostamos de guerras, que adoramos violência, que nosso lance e ver sofrimento? Num sei… Achei que a ideia sempre fosse NÃO ESQUECER tudo isso, que esse passado, nos reduziu como humanos. Mas, pelo que percebo, isso tudo que vemos ai, é nada mais, nada menos, que uma nostalgia de tempos bárbaros.

Num sei como alguém pode se sentir saudoso de períodos como esses: de guerra, morte e atrocidades mil. Num sei como alguém pode sentir saudades de imposições politicas, repressão tortura. Não faz sentido.

Não faz sentido também, as pessoas que hoje vivem e propagam o fascismo. Pior, que fazem isso acreditando que estão sendo democráticos, cuspindo seu discurso de ódio com rotulo de ‘liberdade de expressão’.

Me lembro de um professor que certa vez citou um filosofo, que agora me foge o nome, que sempre se perguntava: “quem inventou o perfeito?” Eu também me faço essa pergunta todos os dias. Porque não importa o que é perfeito, mas quem inventou essa doideira.

O fascismo surgi disso: a busca por uma sistema ‘perfeito’ politico-ideológico-social pautado na falsa ideia de poucos, que acreditam serem perfeitos, através de seu comportamento moral e cívico, e que esses devem ser seguido por todos. E o melhor de tudo, é quando esse sentimento, de perfeição, vem atrelado a ideia de uma ‘iluminação’ divina.

O que me deixou indignada, o que me deixa indignada, e mais ainda, me assusta, é esse levante fascista-cristão, que tem ódio de pobres, negros, homossexuais, mulheres, velhos e crianças. Não sei o que passa na cabeça dessas pessoas, e talvez nem queira saber, pois isso pode me assustar de verdade.

Odiar um pobre é ridículo, ninguém nasce pobre, se torna pobre. Se torna pobre devido a nossa divisão estamental criada por nosso antepassados. Dá pra parar de ser pobre? Não, não dá. Não enquanto vivermos produzindo mais pobre. Quem inventou o pobre? Quem inventou o rico? Nós. Humanos. Logo, só nós, e apenas nós, humanos, podemos desfazer isso. Aliais quem inventou esse conceito de superior e inferior, será que pensou nessa loucura toda que criamos com a divisão social? De centro-periferia?

Hoje, depois de ontem, fiquei assustada. E cada dia que passa fico mais assustada… Estou vendo uma onda fascista nascer em meu Estado, em meu bairro, entre os meus amigos… Não sei como responder a isso… Aliais o que mais me assusta é o ódio que nasce do discurso de ódio. É o ódio que surge do ódio de alguém que propaga o ódio…

Lágrimas ofuscam o brilho dos meus olhos…

Soluços amargam em meus lábios…

Um aperto fundo no peito…

Lágrimas de um ser humano sem amor e cheio de defeitos….

OLIVEIRA, A.C.