A própria capacidade de escolha é uma descoberta. Sempre presente, aguardando ser desperta. Infelizmente, é muitas vezes fracamente utilizada, sem fazer jus ao seu potencial. Uma vez percebida, porém, ainda não é suficiente: percebe-se a capacidade de fazer as próprias escolhas, mas não se é capaz do fundamental, o “escolher” – a ação, o movimento. Sabe-se, mas não o faz.
Isso causa decepção. Sensação de incompletude e carência de algo que “não se sabe o quê”. Claro, não se tentou, logo, nem se ousou sair do plano do imaginário. Não lhe deu formação. Ideia incompleta. A falta.
E a falta de explicação sobre a falta, provoca a raiva do mundo ou de qualquer culpado, inconformismo, gasto de energia e cansaço do coração em função da não conquista. A falta.
Até se perceber quem seria o único capaz de direcionar o arco do “escolher” e atirar sua própria flecha da escolha. Mas não o fez. E é mais fácil disfarçar o “nem tentei” com o conformismo, esconder a verdadeira escolha embaixo do que está pronto e já é seguro, vestir a máscara da rotina maquiando a vontade, escondendo-a no fundo de um baú para não ser notada. Ao invés de assumir que não se conseguiu escolher, esconda a escolha. Fingir que ela não existe. Incapaz? Jamais. Antes abrir mão da própria vontade do que parecer incapaz. Um pouco contraditório.
Ou, todo esforço gasto no disfarce, ao invés disso poderia ser investido no aprimoramento do escolher. É o caminho mais dolorido e um árduo treinamento, com suor e feridas, mas que secam e cicatrizam com a finalidade, a busca e o objetivo. E quando “o escolher” vai se aprimorando, aprende a desviar de obstáculos da sociedade e da interioridade, aponta e dispara sua flecha da escolha de modo cada vez mais preciso – a sensação é extasiante, como a adrenalina do momento entre o arremesso do dardo e sua possibilidade de fincar no centro do alvo.
Entre uma multidão, o objetivo escolhido é localizado, agarrado pelo braço, segurado pela mão, envolvido pelos braços, e beijado. As estrelas parecem fogos de artifício, o céu acende como um holofote glorificando a conquista, o vento toca suas trombetas, e todo o universo parece gritar BINGO! Alcança-se, consegue-se, e o que era objetivo passa a conquista.
Porém, essa sensação pode terminar… se a escolha feita mostrar-se objeto de profunda tristeza. E de conquista retorna a ser objeto. Novamente, aparece a frustração, mas dessa vez o motivo é conhecido: sabe-se que o que houve, infelizmente, foi uma escolha desacertada. E então, não há mais a falta de “não se sabe o quê”: não se é mais veículo do mistério, mas dono de sua própria razão.
Ao menos, agora a opção é ativa e o potencial usado, e não passivamente desperdiçado em sofrer por não fazer, falta por não saber. E, uma vez em movimento, dificilmente o conformismo da inércia retornará.
Quando se aprende a escolher e arriscar, nada parecerá pior do que uma vida tranquila e sossegada, sem testes do que é possível e do que se é capaz. Quase um jogo de vício saudável. Jogar com as próprias capacidades e as que a vida pode proporcionar. A vida é um jogo, a felicidade um risco, o futuro uma aposta.
~Ghost
“Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor. Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende. Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir.”
Cora Coralina