ANDORINHA

Voando sozinha

Lá se vai à andorinha….

Buscando pelo verão

Nos descompassos dessa estação

 

Passarinhando pelo destino,

Me desamparo sozinho.

Sem seu canto de emoção

 

Queria eu ser ave.

Pássaro de verdade.

Voando pela cidade,

Olhando lá de longe a confusão.

 

Na primavera,

Eu ficaria rindo a toa

Das flores ao luar.

E no calor do dia

Sorriria apenas para você

Minha querida andorinha

Que fez meu coração

Apaixonado passarinhar.

 

OLIVEIRA, A.C.

PSEUDÔNIMO

A palavra fez-se homônima
Transformando-se em sinônima,
Para que eu fosse antônima
O meu próprio ser.
E tudo isso por não ser capaz
De viver em paz
Sem você.
E por mais que me fizesse anônima,
Em ser pseudônima
Disfarçando o meu querer.
Acabei ficando de passagem
Seguindo numa louca viagem
De amar sem entender.

 

OLIVEIRA, A.C.

REFLEXOS

Olhando para mim me desconheço,
Refaço todo o meu caminho
Por infinitos labirintos
Em muitos lugares perdidos,
E retorno para o começo.

Foram muitos planos…
Muitas ideias…
Todos inacabados.
Ficaram por onde fui parando,
Esquecidos e deixados.

Não sei mais quem eu sou.
E fico a procura de quem eu era.
Do eu que me deixou
Apenas algumas lembranças
Mas, quase nada sobrou.
Esse antigo eu se perdera.

Em uma imagem refletida:
Sou um nada,
Sou um desconhecido,
Sou eu em mim mesmo perdido.

Foram tantas coisas,
Muitas idas e vindas,
Algumas mudanças acontecidas.

Em todo esse tempo
Reinventei-me.
Mas, agora me perdi.
Perdi-me em mim mesmo
Sem saber com qual intento.
Apenas desfiz-me,
E assim sobrevivi.

Resisti as minhas mudanças
Tornando-me novo a cada dia.
Enchi-me de esperança
De poder dar adeus ao meu eu que partia

Mas, não quero deixar-me,
Quero ser quem sou.
Quero de mim embriagar-me
Não importa o que passou.
Esse novo eu
São resquícios de um eu que se perdeu
Refletidos no novo eu que gerou.

Sou hoje restos de um passado
Que aqui ficou.
Amadurecido sem pecados,
Dos danos que a vida me causou.

Em cada instante vivido,
Mais um elo partido,
De quem eu sou agora refletido
Do antigo eu que se passou.

OLIVEIRA, A. C.

Sem título

le arrancamos al mundo la tristeza

 sonreímos

te sentaste a mi lado

me miraste

y yo

el escueto y lógico

te grité

(Herberto Padilla)

 

À Pricila Martins

 

Lembra-se dos dentes de leão? Eles voavam,

tal pássaros selvagens – e um caiu na sua mão!

Era a vida fulminada num instante, fulminante

Quantos naufrágios em nossas conversas

quantos tropeços em nossas próprias asas

Exilé sur le sol au milieu des huées

Salvamo-nos com a palavra amizade

essa mentira que inventamos para não morrer

ponte de corda bamba sobre o abismo

Quanto falta ainda? fizemos nós um parco

pacto pela vida – mas quanto falta ainda

para olharmos nossa vida como um passado?

Ou como um pássaro?

Juramos não jurarmos, mentimos não mentirmo-nos

mas quanto falta ainda para nos enganarmos?

Ou nos engajarmos?

Lembra-se dos dentes de leão? Eles voavam

tal pássaros selvagens – e um caiu na sua mão!

Era a vida já lida, perdida, mas ainda aberta para a releitura

T.

REVOLUÇÃO

Olha que sucesso!

O país do progresso

Procurando a revolução.

Encontramos a solução?

Não, não se iluda com essa visão,

Somos um povo e não nação.

Buscando pelo retrocesso

De um regime regresso

Pelo fim da expressão.

 

Olha que loucura!

Quantas bandeiras na rua

Cantando todos, a mesma canção.

E no meio da multidão,

Até parecia verdade

Muitos de caras pintadas

De verde e amarelo listradas

Mas, era só maquiagem,

Disfarçando a real pretensão,

Ou a triste ilusão?

 

Ai mais que tristeza!

Um país que se diz sem pobreza,

Marcado pela exclusão.

Atrás de padrões por excelência internacional,

O que se viu afinal?

Mais um golpe no coração.

Indignando o pobre cidadão,

Sem saúde e educação.

 

Olha mais que beleza!

A juventude inteira unida

Correndo juntos pela avenida.

Só que isso não era olimpíada.

Era fuga induzida,

Pra sair da frente do pelotão,

Que surgiu com bombas e canhão

Pra colocar ordem na multidão.

Por que vandalismo não tem perdão,

Seja ele incêndio ou pichação.

A não ser que seja do governo,

Cumprindo ordem de despejo,

Pra fazer valer a lei da possessão.

 

OLIVEIRA, A. C.